quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Manual do Intelectual Brasileiro

Por Fábio Rabello


Para se tornar um intelectual no Brasil, hoje, não é preciso muito esforço. Anos e anos de dedicação à leitura de obras dos grandes pensadores iluministas também é uma prática absolutamente dispensável. Ter cursado nível superior conta, mas não é obrigatório. Ser de esquerda é pré-requisito indispensável, mesmo àqueles que jamais arriscaram nem que fosse um passar de olhos pelo prefácio de O Capital. Ter gravado o nome de Karl Marx na mente é muito importante. Saber quem foi e quais eram os objetivos do alemão de barba graúda, não. Mesmo assim, defenda-o ferrenhamente, e será visto com deslumbre na roda de amigos.

Seja crítico. Mas tome o devido cuidado de criticar e falar mal apenas daquelas pessoas previamente autorizadas pelo senso comum a serem criticadas. Portanto, não poupe discursos de indignação perante personalidades como Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo, José Sarney e tantos outros nomes reservados pela mídia exclusivamente para esse fim.

Por outro lado, não esqueça de que elogios também são importantes, principalmente os dirigidos às camadas excluídas socialmente. Todo intelectual que se preze, no Brasil, precisar estar sensibilizado e de comum acordo com a ideologia do Movimento dos Sem-Terra, dos índios e das prostitutas da Augusta. Difunda o direito ao aborto em quaisquer condições. Elogie os negros da periferia que vendem cinco milhões de discos e demonstre especial carinho aos gays e às lésbicas. Curta Caetano e toda trupe a masculinizada de cantoras da MPB.

Se lhe perguntarem sobre política e economia, simule clareza, mas sem deixar de ser prolixo e contraditório: “Sou contra a privatização, o que não significa que eu seja a favor da estatização”. Diga que o capitalismo está falido Brasil e que somente o PT será capaz de

salvar o País. Não coma Big Mac, nem tome Coca-Cola. São símbolos do fútil “american way of life”. Cite os ideais de Betinho sempre que a ocasião for propícia.

Seja defensor das causas ambientais. Propague o uso da bicicleta mesmo em cidades em que ela seja completamente inviável, como São Paulo. Se algum ciclista for atropelado às seis da tarde em plena Avenida 23 de Maio e morrer, não hesite. “A culpa é do motorista”. E sempre será. Rotule o trânsito das grandes cidades de “selvagem” e defenda a tese de que foram os carros que invadiram o território do ciclista, nunca o contrário. Quando alguém reclamar do calor, ponha a culpa no aquecimento global e diga já ter abandonado por definitivo as sacolinhas plásticas de supermercado. Jamais, jamais tente dizer qualquer coisa com a qual o público não esteja predisposto a concordar. Isso pode custar seus planos de se tornar um “formador de opinião”.

Por fim, vasculhe os diversos tipos de “grupo dos excluídos” em moda atualmente e trate de se encaixar em um deles. Assim, se a carreira de intelectual não vingar – o que creio ser difícil seguindo a cartilha – pelo menos benefícios financeiros não lhe faltarão e, com um pouco de sorte, você poderá até aparecer em algum programa dominical da tevê. Mas aí já é outra história. E, para ela, há uma outra cartilha a seguir.


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